Conversas Intermináveis
- Quem está aí?
LV - Sou eu rapaz, tem lá calma!
- Luís Vaz!!!! Não sabes o quanto
contente estou por te rever!
LV - Eu sei! Por isso é que vim. E
claro, aproveito também para beber umas branquinhas.
- Não podes imaginar o quanto estava a
precisar de ti!
LV- Porquê? Tudo o que podia fazer por
ti já o fiz! Sabes isso, não sabes?
- Claro que sei! Mas necessito de
alguém com quem possa falar em verdade.
Fiéis do Amor |
LV - Porquê? Tens outra maneira em que
possas falar? As tuas palavras, como se diz hoje, têm o disco
formatado na verdade. Podes tentar mudar de disco, o que me iria
divertir muito!
- Esquece agora isso e ouve...
ENCONTREI-A LUÍS!!!
LV - É lá! Não me digas?! E eu que
não sabia! E nem é por isso que aqui estou! Então diz-me lá moço,
e que tal?
- É devastador!!!
LV - Não me digas que após tanto
esforço e asneiras não gostaste de rever a Índia?
- Ela está linda!!!!!!!!!!!
LV - A sério? Deixa-me ver se
adivinho. Ela está muito mais bela do que a primeira vez que tu a
viste. Sentes-te desleal e infiel, porque após teres andado tantos
anos com uma imagem na tua moleirinha, imediatamente a trocaste por
uma nova e, com aquele contra-censo, onde a imagem da mais antiga é que
é a recauchutada. Acertei?
- Gaita! Como é que tu sabias?
LV - Deixei de te acompanhar à sete
anos rapaz! Deixei-te nas mãos dela! Deixei-te, porque já não
tinha mais nada para te ensinar, a partir dali, apenas ela podia
fazer algo por ti. Lembras-te da obra do Alighieri?
Estás tão perdido que dá dó! Bem...
façamos então umas perguntinhas. Dentro de ti, o que é que ela te
dizia?
- Bem... de facto... ela sempre me
disse que eu a encontraria muito mais bela do que antes.
LV - E tu, com a tua lógica de
pacotilha não a ouviste... não foi?
- Não exageres! Claro que a ouvi! Como
poderia não ouvir!? Mas era demasiado bom para ser verdade.
LV -. E ela é o quê?! Não
suficientemente boa para ser verdade? Escreves frases bombásticas
como – Os homens agem na vida como se o amor não existisse
– ou – a grande diferença entre verdade e ciência -, mas
quando ela te diz, que no mundo a vais encontrar muito mais bela, tu
achas que pode não ser verdade.
- A beleza dela baralhou-me Luís...
não sei o que dizer! Eu sei que ela não me mente... mas a verdade é
tão incrível!
Mas diz-me Luís, quando viste Natércia
passado anos, o que é que fizeste?
LV – Burrice como é óbvio!
Ajoelhei-me à sua frente, e como se ela fosse uma Deusa,
pedi-lhe perdão.
- A sério??
LV – Ai não!
- Mas??????????
LV – Porque só depois é que dei
conta, que a palavra perdão é tão pequenina, que naquele contexto
fica noutra orbe distante. A minha imagem de joelhos... bem... essa
então nem tenho palavras! Como se alguma vez um homem que se coloque
de joelhos à frente da sua amada, possa passar a ter algum crédito
por causa disso!
- E o que é que ela fez?
LV – Arrasou-me! Baixou os olhos e
chorou! E o que é que fez a tua amada?
- Baixou os olhos e chorou!
LV - Vês?! Toma e embrulha!
- Comigo pode ter sido mais complicado,
é que eu apenas a vi em fotografia. Para além de ser linda de
morrer, devastou-me o seu olhar. Foi como se eu visse os trinta anos
das minhas asneiras no seu semblante e... a nobreza... aquela nobreza
no olhar... com esse mesmo olhar, confirmou-me todos os meus receios,
confirmou-me tudo o que eu mais temia. Vê-se que teve muitos anos de
sofrimento, mas o seu olhar continua nobre, o seu olhar apresenta-se
como se ela... humilde e docemente aceitasse, todos os sacrifícios
que a sua vida lhe provocou e provocará. Quando vi aquele olhar,
apenas não colapsei, porque dentro de mim ela não deixou. É
desorientador!
Apenas o que me fez rir, foi noutra
fotografia, ter revisitado o seu ar sério e austero. Para quem não
a conheça, fica em sentido como se estivesse à frente de Leónidas.
LV – Humm! Séria...!? Austera...!?
Leónidas...!? Relembra-me, como é que se chamava o Presidente para
a Europa, daquela empresa onde tu trabalhaste?!
- Qual delas?
LV – Aquela que o presidente era um
Italo-americano.
- Áhhh! O Pascoal Giordano?!
LV – Exactamente! Esse mesmo!
Diz-me...., o que é que ele te pediu para fazer, quando o novo vice
presidente da IBM se foi apresentar lá na vossa chafarica nos Alpes.
- Bem... pediu-me... para ficar atrás
dele quando o maduro chegasse!
LV – E porque é que era necessário
isso?
- Porque... bem... ahhh... porque...,
quando nós os dois estávamos lado a lado, as pessoas tendiam a
dirigir-se a mim como se fosse eu o presidente!
LV – E como é óbvio, as pessoas
faziam isso, porque tu colocavas uma carinha larocas, não é?! Ó meu
“Leonidas-casse-trogne”?!
-
Certo! Mas estás-me a querer dizer o quê?
LV –
Donde te vem esse ar austero que tu colocas!? De fora ou de dentro!?
Só encontras nela, o que nela há em ti. Só viste a nobreza do seu
olhar , porque ela vive em ti! Um tecnocrata ao olhar para ela, vê se ela é jeitosa ou não.
Se ela é jeitosa para ti, é porque essa jeitosice vive em ti!
Percebeste jeitoso!?
-
Então... deve ser por causa disso, que eu gostaria de passar a minha vida
na praia. Ela também gosta...!
LV –
Não...! Ilusão tua!
- Estou habituado, a saber o que ela
me faz sentir em relação ao que me rodeia. Sobre esses
pormenores, eu nem me tinha lembrado que poderiam acontecer! Mas o
oposto também pode acontecer!?
LV - Como é óbvio, vocês são sexos
opostos. Haverá situações, onde os opostos não serão ligados
pela semelhança, mas pelo espírito!
Bem! Mais uma branquinha! Tenho a
garganta mais seca que o coração de um banqueiro!
- Estou muito impressionado com outra
coisa Luís!
LV – Coisas é comigo! Por falar
nisso, mais uma branquinha!
- Ela estava à espera de mim! Bem! Não
exactamente de mim, ela não sabia quem era em particular! Estava à
espera de alguém!
LV – Isso é sempre verdade! Mas como
sabes isso?
- Psicanálise! As duas primeiras
mensagens de retorno dela assim o indicam.
LV – Essa da psicanálise foi
brilhante! Como que sem a passagem da filologia à filosofia, o homem
pudesse saber fosse o que fosse!
Bem! Não preciso de te perguntar, o que
é que ela dentro de ti dizia, pois não?
- Claro que não! Mais ainda! Aqui à
uns anos atrás, em alguns outonos, tive alturas em que sentia como
uma espécie de chamamento em aflição por parte dela. Embora isso também tivesse acontecido noutras alturas do ano.
Não crio teorias
da conspiração Luís, sei que se eu a busco, é porque ela me aguarda. Se eu
tenho necessidade de a encontrar, é porque ela tem necessidade de
ser encontrada. O que me espantou, é que tudo isto aconteceu por
intermédio de mensagens electrónicas, onde ninguém tem acesso às
expressões faciais uns dos outros. Como é que ela sentiu que havia
algo naquelas perguntas tão simples que fiz.
LV – Deus colocou-ta em ti! Não
tentes ser Deus! Dá mau resultado! Há questões para as quais, nenhum
homem ou mulher terá respostas. É por isso que Deus é bom! Sem
mistério, nunca haveria espanto, sem o espanto, não haveria o
prazer do amor.
Upa! Upa! Esta branquinha é mesmo boa!
Chegaste não foi?! Não tens um cavalo branco, mas pelo menos, calças botas alentejanas, o que para os dias que correm, não está nada mal. Fizeste o que tinhas que fazer ou não?
Upa! Upa! Esta branquinha é mesmo boa!
Chegaste não foi?! Não tens um cavalo branco, mas pelo menos, calças botas alentejanas, o que para os dias que correm, não está nada mal. Fizeste o que tinhas que fazer ou não?
- Sim! Fiz!
LV – Então... agora é com Deus!
A conversa foi curta mas boa! E agora
deixa-me dormir, pois sinto as minhas tripas em vinha d'alhos.