domingo, 4 de novembro de 2012

Uma fabulosa fotografa Luso Canadiana

Andrea Lee Fonseca nasceu em Toronto no Canadá, filha de pai canadiano e mãe portuguesa.
Para uma luso-portuguesa que se expressa pouquíssimo na língua de origem da sua progenitora, Andrea, embora provavelmente sem o saber, de forma misteriosa, traz-nos por intermédio da arte de fotografar uma das mais belas e sublimes formas de lusitanidade que temos contemplado ultimamente.
Sem talvez nunca ter sabido que o território que é hoje Portugal, foi apelidado pelos gregos do primeiro milénio antes de Cristo de ophiussa, ou terra das serpentes (devido ao culto da serpente que seus habitantes veneravam, culto este, dedicado desde o alvor da humanidade à Deusa Mãe Terra), exibe esta no seu portfólio, um reduzido mas excelente conjunto de fotografias onde com magnifica sensibilidade lusitana, nos dá o prazer de revisitar essa relação tão intrínseca entre a mulher e a natureza - beleza da mulher e a beleza natural. Relação esta, consubstanciada em algumas das suas fotografias, onde a mulher é abraçada e absorvida por luxuriante vegetação e, noutras,  como por milagre, o movimento feminino é captado pela câmara de forma irradiante, espalhando-se e fornecendo vida ao imobilismo circundante.

Mais é de espantar, que no seu sítio internetino, na zona do perfil, Andrea dá-nos a conhecer a sua admiração pelo biólogo, teorista e conservacionista Edward O. Wilson.
Para quem desconhece a obra deste cientista, bastará uma curta visita à Wikipédia e logo lhe surgirá dois registos de notável informação:

"The evolutionary epic," Wilson wrote in his book On Human Nature, "is probably the best myth we will ever have." Wilson's intended usage of the word "myth" does not denote falsehood - rather, a grand narrative that provides people with placement in time—a meaningful placement that celebrates extraordinary moments of shared heritage. Wilson was not the first to use the term, but his fame prompted its usage as the morphed phrase epic of evolution".

Edward O. Wilson
Human beings must have an epic, a sublime account of how the world was created and how humanity became part of it ... Religious epics satisfy another primal need. They confirm we are part of something greater than ourselves (...) The way to achieve our epic that unites human spirituality, instead of cleave it, it is to compose it from the best empirical knowledge that science and history can provide.”

e ainda como comentário:

Cosmologist Brian Swimme concludes in a 1997 interview

I think that what E. O. Wilson is trying to suggest is that to be fully human, a person has to see that life has a heroic dimension (...) I think for the scientist, and for other people, it's a question of "is the universe valuable? Is it sacred? Is it holy? Or is the human agenda all that matters?" I just don't think we're that stupid to continue in a way that continues to destroy. I'm hopeful that the Epic of Evolution will be yet another strategy in our culture that will lead our consciousness out of a very tight, human-centered materialism”.

Não será necessário ler estes pequenos trechos de informação com extrema atenção, para denotarmos que o E. O. Wilson proclama, não é mais do que Leonardo Coimbra, Agostinho da Silva, António Quadros, Dalila P. da Costa e a esmagadora maioria de filósofos e pensadores livres ligados ao que ficou conhecido como o movimento da filosofia portuguesa, sempre defenderam durante todo o séc. XX, com continuação por outros no XXI. Movimento filosófico este, ainda hoje negado de modo bafiento por sinistros e obscuros neo-mecanicistas nacionais. 

Nos nossos dias, os menos avisados, continuam a dar-nos pateticamente razões científicas para a impossibilidade da ocorrência do milagre de Ourique e outros , confundindo puerilmente, a diferença existente entre ciência e verdade, entre ideologia e crença e seu distinto movimento. Mas este assunto ficará para uma outra altura..  

Explicando o que é a xenophilia em suas palavras, diz-nos Andrea:

"Xenophilia, love of what is foreign, is an exploration of our place in nature and the mixed messages we are exposed to about our separateness and unity with the natural world. Through a journey, from belonging, to awareness of difference, to reintegration, this series concludes that we can only be what we are in relation to how we define what we are a part of".


mais ainda

"We belong to the natural world. From our inflated sense of having arrived at some pinnacle of evolution, we have lost the sense of belonging that is our biological heritage. We have accepted this false separation and have been wrenched from the forest. Yet all of life is part of us. We cannot be separated and it is only upon our return to this place that we can recapture this truth of belonging to something, everything, and become part of a much greater world".

Embora escrito em inglês, mas de forma tão lusitana no feminino, esta luso-canadiana transporta na sua relação com a arte de fotografar e na sua visão cósmica do mundo, essa mesma relação que podemos ler nas obras da saudosa e recentemente falecida Dalila Pereira da Costa por intermédio da palavra. Essa relação una,  inconsútil da mulher lusitana com a terra. Tendo como paralelo no masculino, o conhece-te a ti mesmo, proclamado desde tempos imemoriais e abraçado pelos filósofos desde o séc. VIII ac. Preceito este, infelizmente quebrado em Portugal de forma extemporânea por Marquês de Pombal e Padre Luis A. Verney no séc. XVIII, que obteve como devastador resultado, a imitação em termos totalitários por parte dos portugueses, desse comportamento macaqueador face a toda e qualquer moda ou ideologia estrangeira.

Estamos pois face a uma fotografa luso descendente, e também perante uma fascinante descoberta. Sobretudo se tivermos em atenção que a tendência de ordenação religiosa em terras canadianas tal como nas dos Estados Unidos, não se predica no culto da Deusa Mãe, mas sim no que um cristão apelidaria de Espírito Santo. Tendência esta, bem manifestada no culto e na comiseração face ao divino por parte dos povos autóctones, onde embora dado a conhecer por intermédio do feminino, este apenas possui uma importância provedora, pois toda a espiritualidade das tribos índias é dirigida ao grande Manitu, o grande espírito que relaciona em perfeição os céus com a terra tornando-os uno: - Avô, Grande Espírito. Não há outro a quem rezamos. Vós mesmo e tudo o que vedes foi por Vós criado (Alce Negro).
Não será também por outro motivo, que se verifica uma desorientação religiosa tão notável nos povos imigrantes que compõe a população norte americana, e como tal, a sua gorgonina e destrutiva atitude face à natureza propulsionada ainda hoje pelos escritos de Locke (hoje, com corrupta mistura do idealismo alemão).

O que consideramos como mais notável no trabalho desta artista, é o credível e honesto espírito que relaciona pensamento e movimento. Defendendo o pensamento epopeico de E. O. Wilson, Andrea coloca um movimento nas suas imagens que para qualquer homem possuidor do peito ilustre lusitano, facilmente relacionará não só a figura feminina como a paisagem luxuriante, com as ondinas (de carne e osso) e a ilha dos amores camoniana.
Digno de registo é também, a diferença existente entre o espírito epopeico onde esta artista nasceu e cresceu e o lusitano.
Esmagadormente influenciado pelos Estados Unidos da América, o espírito epopeico canadiano baseia-se em grande medida no do seu hercúleo vizinho.
Melville diz-nos no seu Moby Dick, que o homem vai atrás do mal. E com o quê? Com o que é Mal! Destroem-se ambos no mal, ficando no final o quê? O mal!
Por outro lado, na epopeia lusitana, Camões diz-nos que homem que é homem, aquele que possui o peito ilustre lusitano, vai até ao cabo do mundo. Depois do adamastino reconhecimento de si próprio, prossegue sua problemática viagem já não a descer mas subindo em direcção à Índia. Diz-nos ainda o vate lusitano, que já depois de terem levantado ancora da Índia, os nautas encontraram de forma misteriosa a Ilha dos Amores.
Resumindo, homem que é homem terá que ir à Índia (Dos fracos não reza a história). Existe a ilha dos amores é certo. Mas isso... são negócios de Deus.
Ao observarmos as fotografias de Andrea, verificamos com doce e matrimonial emoção, que esta exprimiu por intermédio de sua arte, esse divino e puro receptáculo arquetipal tão nobremente exposto pelos poetas e filósofos lusos.

A sociedade canadiana, possui alguns pontos em comum com a portuguesa, pois tanto numa como noutra, predomina o consumismo estimulado por entidades financeiras. No entanto, sendo portuguesa apenas pelo lado materno, não tendo grande informação da mais alta cultura do país de sua mãe, não possui conhecimento também de parte substancial dos mitos e crenças negativistas que assolam hoje o nosso País e, que impossibilitam outras artistas de expressarem a sua mais profunda lusitanidade no feminino com esta beleza, procedendo sim, à imitação de movimentos culturais estrangeiros, muitos deles de intelectualidade duvidosa.  


Destarte, ao ligar sua alma à arte, esta fabulosa artista demonstra a um País, que por muita destruição que possa acontecer, por mais vermesinos ataques que positivistas, tecnocratas e mecanocratas façam à sua própria Pátria, ela vive e viverá onde estiver um português ou seus descendentes. Porque a Pátria é misteriosa... e Eterna.  

Obrigado Andrea


www.andrealeefonseca.com